18.04.2020
“Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.” Quem disse esta frase foi o célebre Monteiro Lobato, que de fato conseguiu fazer o que se propunha, ao escrever livros que seriam de tal maneira parte do universo das crianças brasileiras que a elas seria imperceptível a intervenção proposital de um autor… E talvez o segredo do gênio de Lobato seja este mesmo: o de alcançar tal envolvimento por parte do leitor, especialmente em se tratando do público infantil. O problema é que muitas vezes deixamos de nos aprofundar e problematizar questões em sua obra que são (e muito!) necessárias na atualidade.
Por mais que algumas destas questões possam passar despercebidas ao leitor infantil, a intermediação do adulto complementa e enriquece a leitura de Lobato, na medida que o coloca como responsável por trazer à tona alguns assuntos, até mesmo ditos desagradáveis, para discussão com as crianças. Rico em temas polêmicos, o texto de Lobato chegou a ser julgado inadequado para a leitura de crianças modernas, criadas (e com toda a razão!) para combater o racismo e a misoginia, por exemplo – ambos temas que podem surgir na leitura do clássico “Reinações de Narizinho”.
A leitura intermediada de sua obra nos traz, portanto, a oportunidade de introduzir temas difíceis de tratar com as crianças, especialmente se as ajudarmos a perceber e comparar a diferença do texto, que foi escrito há um século, com as práticas atuais que queremos propagar. O “assunto” é garantido: do comportamento feminino exigido na época (para casar bem, Narizinho anuncia Emília como sendo muito “prendada”, capaz de costurar os próprios vestidos e cozinhar doces difíceis), aos insultos feitos à querida Tia Nastácia, pelo fato de ser negra, basta um empurrãozinho do intermediador para que as crianças passem a ser as primeiras a apontar os absurdos e identificar o quanto evoluímos nas situações descritas.
Esta reflexão passa ser, portanto, um dos aspectos mais ricos quando tratamos da leitura do referido autor, pois nos permite extrair da literatura aquilo que de mais interessante ela nos dá: um retrato do mundo como ele era no momento em que a história acontece, para que possamos refletir e construir o presente aproveitando o que de bom nos é dado, e “consertando” o que for devido, uma vez que o erro apontado na ficção é muitas vezes mais fácil de ser resolvido do que os problemas da vida cotidiana, de que estamos, invariavelmente, cercados. Uma vez eliminada a questão no campo das ideias, sua resolução parece muito mais próxima no mundo real – e é justamente nisso que precisamos que as crianças acreditem, para que sejam sempre capazes de enfrentar o que de errado surgir em seu caminho.
Texto escrito por Tainá Moterani – professora de biblioteca do Ensino Fundamental da Beacon School.
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