09.12.2022

Cadeiras

Por Bartolomeo Gelpi

Prorrogação em jogo de copa é uma especie de espaço surrealista. 0 x 0 no tempo regular vira 3 x 2, e coisa do tipo. Fizemos nosso gol no finzinho do 1˚ tempo. Alegria e um pouco (pouco!) de alívio. O deles veio no finzinho-zinho do 2˚. Já entraram nos pênaltis com moral mais alta, só por isso. Aí veio aquela defesa do nosso primeiro chute e o resto sabemos.

A tristeza coletiva se manifesta de formas individuais, também. Mão na cabeça, praga, choro, alguns consolando outros… E começa o movimento de sair do auditório. Olhando pros lados, vi alguém carregando sua cadeira para as pilhas junto à parede. Aderi ao movimento e fui vendo que várias pessoas faziam o mesmo, levando uma, duas ou até três cadeiras de uma vez. Foi um movimento silencioso e todas as caras estavam tristes. Depois de encaixar sua cadeira às demais, cada um voltava para recolher ainda outras. Sempre silêncio.

O consolo coletivo se manifesta de forma coletiva, também. Certamente me engajar naquele movimento estava sendo um modo de mitigar a tristeza. E aposto que para todos foi assim. Foi bonito não ter tido nenhum chamado à tarefa, começou um aqui, outro lá e estávamos todos empenhados em organizar de volta o espaço que compartilhamos. Cada vez mais procuro uma forma que represente as diversas disciplinas tal como organizadas em uma escola. Por hora fico com o triângulo. Imaginem vários triângulos muito distintos, mas que partam todos de um mesmo segmento de linha como base. Cada triângulo, uma disciplina: o triângulo do Português, o outro da Geografia, o triângulo da Matemática… Aqueles que se sobrepões mais entre si, são as disciplinas de uma mesma área do conhecimento. Suas pontas sem sobreposição, as especificidades de cada disciplina. Agora, em uma escola, a base comum a todos esses triângulos, que todas as disciplinas compartilham, são os valores. Havia uma dignidade em como mitigamos nossa tristeza. Em como cuidamos do nosso espaço comum, juntos, em silêncio e tristes. No dia em que as aulas acabaram, seria lindo partir com o Brasil seguindo para as quartas. Mas aí, realmente não sei se daqui a muitos anos eu me lembraria deste jogo. Sei que vou me lembrar em como nos apoiamos nas cadeiras
naquele fim de jogo. Curiosamente, cadeiras que nos apoiaram em movimento, enquanto eram elas, por nós, carregadas. Talvez para manter o lirismo de vários corpos em movimento após uma partida. Juntos, tristes e em silêncio, cuidamos do que tinha que ser cuidado.

*Reflexão do professor de Artes Visuais após a partida em que o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo de 2022.

Outras notícias

09.12.2024

PYPx 2024

Nos dias 03 e 04 de dezembro, aconteceu o PYP Exhibition, um dos momentos mais importantes d [ ... ]

Leia mais

05.12.2024

Espetáculo “Além do Olhar”

A arte tem o poder de nos tirar da zona de conforto, convidando-nos a refletir, transformar [ ... ]

Leia mais

27.11.2024

Alunos do G5 visitam o G6 no Campus

Os alunos do G6 (6 anos) receberam seus colegas do G5 (5 anos) em uma visita ao Campus. Na d [ ... ]

Leia mais
Veja todas as notícias